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O português, Engenheiro Rui Fernando.

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Mensagem  holbein menezes 20/1/2011, 10:55

“Escangalhados” DIY.

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Por Rui Fernando.

Holbein imeiou à Lista:

O DIYer é antes de tudo um "inventor", inventa tão supostamente que acaba por crer que é "invento" o invento que deveras tenta (parodiando Fernando Pessoa).

“O DIYer é um "sonhador", o técnico em eletrônica, um construtor; o DIYer é um "sacador", o cientista, um pesquisador; o DIYer é um "fazedor", o engenheiro de áudio, um projetista; o DIYer quer saber como fica, o teórico, como se explica”.

“E AudioDicas é para os humanos DIYer e não para os imortais acadêmicos”.
Aproveito o mote e escrevo:


“Escangalhados” DIY.

O imeio do Mestre Holbein surgiu como uma dica na lista Audiodicas; surgiu como uma sugestão dirigida ao nosso querido mascote, o grande Felipe de 15 anos de idade, jovem que sempre nos traz um bom agito, e, de forma sadia, faz o sangue da lista circular em alto movimento de mensagens, idéias e questionamentos. Depois, o próprio Felipe sugeriu que fosse escrito um texto, e de forma democrática divulgássemos a possibilidade do aproveitamento dos gabinetes de aparelhos escangalhados no DIY.
Felipão, meu bom, é isso aí. Politicamente correto. Porque DIY com tudo novo comprado em loja é antiecológico. Reciclagem e reaproveitamento é o tema da modernidade, afinal nem temos mais onde pôr a quantidade de lixo que produzimos. Isso é fácil de perceber no modelo pico cósmico de meu apartamento, entulhado de tralhas. Green Peace DIY.

Na região da Sta.Ifigênia, donde sou Embaixador, segundo meu querido mestre Holbein, depois do normal expediente das lojas (não fique até muito tarde pois a região é invadida pela cracolândia), costumam aparecer aparelhos jogados no lixo, sucata que serve perfeitamente para os intentos DIY. Mas se você tiver vergonha de parecer catador de lixo, ou não quiser ser confundido com o mendigo do Pânico, procure nas lojas de sucata da Andradas, ou pergunte aos donos das lojas se eles têm sucata para vender.

Alerta; nunca mostre interesse específico por nada, se mantenha sempre frio e alheio, tipo “nuntou nem aí”, mesmo que você veja no meio da retorcida sucata.um Luxman SQ38, com o “lettering” em Kanjim.

Outra: os comerciantes já têm compradores fixos os quais, periodicamente, passam para pegar as mais “suculentas” sucatas; portanto, não queira insinuar que você está a fazer um favor à loja, livrando-a do lixo atômico; eles os lojistas é que estão a lhe favorecer caso você consiga que eles lhe vendam alguma sucata. Lembre-se: o aproveitamento de sucata e a restauração dos mais diversos itens são tratados hoje em dia como hobbies, ou seja, o modo como as pessoas com bom poder aquisitivo adotam para ajudar a controlar o estresse da vida moderna. O Professor e jornalista Heródoto Barbeiro, por exemplo, tem esse hobby e anda por aí de Kombi para carregar o material que encontra e possa lhe interessar. Portanto, como em tudo o mais, até para conseguir aparelhos “escangalhados” a concorrência está muito acirrada. O jovem Felipe me mandou a foto de um receiver Gradiente 1360, lindo e impecável, perguntando o que deveria fazer para aproveitar o gabinete do aparelho, para nele instalar o amplificador que o próprio Felipe montou de forma DIY.

Então se vamos:

A primeira coisa a fazer é certificar-se de que o aparelho usado está de verdade escangalhado e que não dá, ou não nos interessa ressuscitá-lo. Quanto a esse Gradiente 1360, especificamente, só usaria como chassi em último caso e mesmo assim com um tremendo dó de doer o coração. Sempre dou preferência a sucatões baleados.
A seguir, vem o planejamento, no qual imaginamos (ou idealizamos?) como ficará o aparelho que queremos montar. O truque consiste em ter calma e ficar, demoradamente, olhando o aparelho a ser aproveitado – à moda de Picasso diante da tela em branco –; quer dizer, não ter pressa, as idéias e as soluções não aparecem de estalo e todas de uma só vez; com freqüência, por precipitação podemos amargurar um resultado insatisfatório, tornando impossível aproveitar uma solução genial que só nos veio a posteriori.
Durante o tempo em que se passa olhando e planejando, já vai dando para divisar os componentes que se pode manter e aproveitar. Depois, retiramos as suas do aparelho entranhas, analisando o que dá para salvar, para usar e para estocar. Jogamos o resto direto no lixo, se não a sua (da sua mãe) casa é que vira um lixo.

Desmonte por completo o gabinete e providencie uma boa lavagem e assepsia. Caso haja focos de ferrugem ou o tratamento original bi-cromatizado esteja comprometido, ou mesmo que a sujeira esteja muito encruada pode-se, desde pintar o chassi com tinta spray até mandar dar um banho numa casa especializada. Mas entenda bem: o banho é químico e no chassi, não é para você ir a uma sauna ou ao banho turco com o aparelho escangalhado debaixo do braço. Um banho de Cândida, na falta de ácido clorídrico, já resolve a assepsia, além de conter a proliferação da ferrugem; mas não se esqueça de enxaguar com água, em abundância, e depois secar muito bem secado.

A tinta em spray não fixa tão bem porque a velocidade com que suas gotículas colidem com o material a ser pintado é muito inferior àquela alcançada com uma aplicação a revolver sob pressão. Mas dá para quebrar o galho e na maioria das vezes não se justificam gastos mais dispendiosos e técnicas mais elaboradas. Numa pintura a spray, mais do que nunca é preciso limpar e desengordurar a superfície a ser pintada e, na maioria das vezes, antes da aplicação da tinta é necessário aplicar uma base catalisadora. A escolha das tintas também é importante; costumo usar as linhas Metalik e Alumen, da Colorgin, mas existem tintas em spray, importadas, que são infinitamente superiores. Um chassi pintado de Cobre fica trés chic.

Os casos extremos são os chassi reaproveitados de valvulados, os quais costumo mandar pintar numa empresa especializada em pinturas profissionais, ou aplicar um novo banho galvânico, ou mesmo cromar, ou cobrear.

Os painéis frontais e traseiros são as partes mais sensíveis e devem ser tratados separadamente; evite esfregá-los em demasia para não arrancar as inscrições neles gravadas. Costumo deixar os painéis imersos por pouco tempo numa solução de ácido sulfídrico diluído em água, que não ataca a tinta mas pode ser fatal para os esmaltes; daí a necessidade de controlar bem o tempo do banho pois, geralmente, os painéis e knobs luxuosos são recobertos por película protetora de verniz.

O painel traseiro pode ser reconfigurado para atender a nova montagem. Provavelmente não serão necessárias as inúmeras entradas e saídas RCA que, em geral, vêm nesses aparelhos mais antigos. Mas vai ser preciso melhorar, e muito, os bornes de conexões dos alto-falantes, e, é bem provável, os próprios plugues RCA existentes.

Adicionar uma tomada IEC no painel traseiro requer um certo trabalho artístico, mas causa no visual uma grande diferença estética. Os novos bornes e plugues RCA podem ser adaptados nos mesmos orifícios em que antes estavam os antigos, bastando para isso que os existentes sejam desmontados, ou então podem ser feitos novos orifícios ou instaladas placas de circuito impresso (cuidado com curtos através do cobre) pintadas e contendo os novos dispositivos. Os dizeres existentes, que não tenham mais justificativa para existir, podem ser recobertos com tinta preta aplicada com um pincel fino.

Pode-se largar o painel traseiro do mesmo jeito que estava no original, só aproveitando o que vai interessar, como também chegar ao extremo de cortar uma nova placa de metal nas mesmas dimensões do painel anterior e nela montar tudo novo, inclusive fazendo o “lettering” com silk-screen, para fixar essa nova placa ao painel existente. Aliás, sempre, de um extremo a outro, quem sabe e quem decide é o DIYer.

O painel frontal é mais complicado; por isso somos obrigados a passar o tempo todo olhando para ele e, se não ficar de bom gosto, a rejeição ao aparelho será enorme. O que quer dizer que reaproveitar é muito difícil porquanto raramente os projetos casar-se-ão de forma perfeita.

No caso de receivers, a grosso modo pode-se remover todo o dial e colar uma cartolina preta por detrás do painel. Recentemente, no gabinete de um pequeno sintonizador Gradiente montei um circuito pré-amplificador de fono; aproveitei o acrílico do dial, do qual removi as inscrições e no qual colei, por detrás, um papel celofane preto, para nele instalar os LED’s sinalizadores de funções.
Mas, via de regra, o melhor é partir logo para uma nova placa metálica, ou talvez de madeira, cortada de tal forma que recubra todo o painel existente e, dessa forma, apresente ares de um painel novo. Estou com um pré-amplificador valvulado, que foi montado no gabinete de um amplificador Kenkraft (kit da nipônica Kenwood), cujo painel frontal foi recoberto com uma placa de madeira com 14mm de espessura pintada com esmalte sintético Preto Cadilac. Ficou parecendo um espesso painel Black Piano, a contribuir com um look bem bacana, bem Chevrolet.

De modo obrigatório as montagens internas devem obedecer a melhor alocação dos circuitos, não só quanto a interferências assim também quanto a dissipação térmica. Os planos de cruzamentos dos cabos internos são muito importantes, embora tenham, de fato, relação com o aspecto montagem; que espero seja exaustivamente estudada pelo montador; a montagem é muito mais importante do que o assunto aproveitamento de gabinetes que estamos tratando no momento.

Pode-se até lançar mão da construção de um sub-chassi, técnica que vem sendo adotada por muitos aparelhos Hi-End, para a realização da qual é bom se munir de diversos tipos de espaçadores. Mas evite ao máximo as furações a torto e a direito, elas só contribuem para deixar deplorável o aspecto final.

Pés de borracha novos são baratos e, comumente, esses aparelhos escangalhados vêm pernetas, mancando. Nas tampas esmurradas, nada que uma simples sprayada de preto fosco não dê jeito. Se houver amassados, use um pedaço de madeira e um “martelinho de ouro”.

Porque tanto trabalho com gabinetes? Não é mais cômodo e barato comprar um zerado na loja?

A resposta é não, e os motivos são vários.

Primeiro, nunca se encontra o gabinete que queremos, do tamanho que precisamos, e com o visual que desejamos. Depois, o preço sempre é meio salgado e chega a causar hipertensão se formos orçar um gabinete feito por encomenda sob medida.
O reaproveitamento de aparelhos escangalhados, além de ter a benesse do baixo custo da matéria prima, ainda trás de graça um montão de componentes aproveitáveis, que na maioria das vezes interessam até mais que o próprio gabinete.
Às vezes, o aproveitamento de gabinetes vai além do reaproveitamento dos aparelhos escangalhados. Estou montando o circuito de um pré-amplificador Termiônica Penta, dentro do gabinete de um pré Golden Tube Audio modelo SEP1. Além de sonoramente não ser lá essas coisas, o GTA ainda estava com um pequeno defeito. Mas o gabinete dele é perfeito, de excelente qualidade e acabamento e já tem todos os acessórios necessários; bem que merece ser estufado por um circuito de ponta. E a cor champanhe do painel frontal combina com meus outros equipamentos.

Finalmente, tudo isso não passa de pura diversão. E quem de nós não gosta de dar uma de Guto Lacaz, de Professor Pardal...
Mais que tudo, apesar de não ser natureba, muito me irritam os maus tratos à natureza e aos animais. Como não tenho mais saúde para enfrentar no muque os que vilipendiam as obras e criaturas de Deus, me restou fundar e aderir ao Green Peace DIY.
Bom divertimento na luta por um mundo melhor, mesmo que seja só o nosso.





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O português, Engenheiro Rui Fernando. Empty Re: O português, Engenheiro Rui Fernando.

Mensagem  tagus 20/1/2011, 19:39

O português, Engenheiro Rui Fernando. 268391 Excelente prosa! Quem já provou essa experiência entenderá o texto em toda a sua essência! Os meus sinceros parabéns! O português, Engenheiro Rui Fernando. 403861
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O português, Engenheiro Rui Fernando. Empty Há amplificadores valvulados e "amplificadores valvulados".

Mensagem  holbein menezes 27/1/2011, 08:56

Engenheiro Rui Fernando.

Por ocasião do Hi-Fi Show de 2002 reparei na profusão de ''fabricantes brasileiros'' de amplificadores valvulados que expunham seus produtos. Durante o evento fiz questão de visitar e conversar com todos e tive o cuidado de anotar no meu caderninho as considerações que fiz a respeito de cada expositor. Não pretendo aqui desenvolver tais anotações, mesmo porque, em primeiro lugar, cada um com os seus problemas. Depois, porque também não sou nenhum exemplo de perfeição, longe disso, e, finalmente, porque o meu desejo é ver o segmento solidificado por gente competente e séria, para dar continuidade a essa arte, que é a amplificação valvulada.

Recentemente, na lista de conversação de AudioDicas o nosso querido Carlos Camardella manifestou a opinião de que fazer amplificadores valvulados é mais fácil do que os fazer transistorizados. Já pelo meu entender, e conforme minha experiência pessoal, é muito mais fácil fazer um bom amplificador transistorizado do que um bom valvulado. Entretanto, a declaração do amigo Camardella me fez refletir sobre essa inversão de conceitos, e relembrar a Feira de 2002.

Imediatamente me ocorreu uma palavra que talvez seja a chave para aclarar o dilema: informação.

Começando pelo lado obscuro da Lua: hoje temos muito menos informação sobre válvulas do que sobre transistores, além de menor quantidade de componentes disponíveis para a técnica valvular, situação acrescida pela dificuldade em obtê-los.


As trevas são nascedouros do místico, elemento fundamental no fantasioso mundo do áudio. E dessa forma fica criado o ambiente perfeito para o surgimento do Mito, aquela figura que propaga conhecimentos obscuros em linguagem exotérica e paira acima dos simples mortais desinformados. Em alta-fidelidade, fundamentado por uma competente engenharia com o intuito de ganhar dinheiro.

Grana, fama e mulheres, para mim é música do Paralamas.

Ser chato é conseqüência do meu oficio, que envolve as atividades de levantar circuitos e detectar defeitos, e isso me trouxe uma certa intimidade com os competentes trabalhos dos Srs. Johnssons e Conrads e uma grande animosidade dos meus queridos Zés Brasileiros.

É muito fácil intitular-se de autor de um circuito valvulado (se isso é possível), e é bastante difícil localizar-se de onde o tal circuito foi ''chupado''; acresça-se o fato de que para analisar o que foi projetado e executado existem poucos críticos especializados na tecnologia das válvulas.

Mas, o Sol nasce para todos e para iluminar os espíritos sarados. Apesar das dificuldades de aquisição e da menor quantidade de informação sobre valvulados em relação aos transistorizados, e talvez até por isso mesmo corremos em busca da arca perdida e nos embrenhamos no prazer de descobrir e fazer acontecer essa coisa mágica que é o som valvulado.

Conheço diversos fornecedores de transformadores e eles me passam uma pequena idéia de quantos anônimos apaixonados por válvulas e pelo saber valvular ainda fervilham por aí. Fico feliz, porque essa arte terá continuidade por mãos de sérios entusiastas.

A conjuntura atual do mercado mundial está propícia à proliferação de ateliês especializados em confeccionar produtos de alta qualidade a um preço razoável, portanto vamos abrir o olho e tirar da frente os espertalhões que atrapalham o caminho aberto, dando nosso voto de confiança a quem realmente gosta do que faz e faz porque gosta.

Procurem se manter informados.






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